O conhecimento profundo das dificuldades de se empreender no Brasil, diante da complexidade tributária, alto Custo Brasil e carga de impostos, endossa o profissional contábil como um importante agente de mudanças. De acordo com o presidente do Conselho Regional de Contabilidade do Estado do Paraná, Laudelino Jochem, hoje, grande parte do segmento político já tem essa consciência, contudo, é preciso despertar o contador para ocupar esse espaço efetivamente. Em entrevista ao Portal ContNews, o líder setorial fala sobre esse papel do contador, dos inúmeros desafios da profissão, da necessidade de educação continuada, das metas do CRCPR para os próximos anos, e muito mais. Confira!
Como você analisa o atual mercado contábil no Brasil e no Estado do Paraná?
O mercado da contabilidade no Brasil está borbulhando e em plena consolidação, por isso exige cuidado e atenção por parte dos profissionais da contabilidade. O cenário envolve conhecimento, equilíbrio emocional, habilidades pessoais, tecnologia, informação e estratégia.
Enquanto alguns profissionais e empresas de contabilidade caminham de maneira célere, outros estão a vagar em ritmo muito lento, já com risco de se perderem pelo caminho. Tanto no Brasil, quanto no Estado do Paraná, as oportunidades nunca estiveram em quantidade e volume como as vistas hoje, mas isso, por si só, não representa garantia de sucesso de forma tácita.
O ponto de partida para qualquer vitória ou conquista se dá com o primeiro passo. No caso em análise, é entender o momento que estamos passando, onde o mercado dita as regras mestras do espetáculo. É a partir deste mister que devem ser construídos os demais pilares estratégicos dentro do cenário competitivo.
Quais são suas metas à frente do CRCPR nos próximos dois anos?
O Conselho Regional de Contabilidade do Paraná vem em ritmo acelerado implementando produtos e serviços para facilitar a vida dos profissionais da contabilidade. Para os próximos dois anos, temos o desafio de inserir os novos, e manter os mais experientes profissionais do segmento em destaque no cenário contábil. Neste sentido, iremos implementar diversos programas e projetos, dentro os quais merecem destaque os que tem foco da qualificação dos profissionais:
- A ESCOLA TÉCNICA CRCPR BÁSICA, que tem como objetivo suprir uma lacuna que existe entre a teoria que os novos profissionais aprendem nas universidades e a realidade de mercado onde buscam se consolidar. A essência deste projeto consiste em levantar os principais conhecimentos exigidos pelo mercado de trabalho, relacionados às diversas áreas de atuação dos neófitos, e entregar estes conteúdos por meio de treinamento online e gratuito, para que eles possam ter condições reais de entrar no jogo competitivo, que muitas vezes não admite tempo de aprendizagem nas empresas.
- A ESCOLA FORMAÇÃO DE LIDERANÇA é um projeto que visa habilitar profissionais já mais experientes e que enfrentam dificuldades para ocupar cargos ou níveis mais elevados em empresas, em entidades ou como empreendedores no mercado. Neste sentido, o projeto visa mapear as principais carências que precisam ser superadas para que os profissionais da contabilidade possam realmente aproveitar em sua plenitude as oportunidades que surgem no dia a dia. O conteúdo programático que vai nortear o programa de qualificação parte do autoconhecimento, equilíbrio emocional, habilidades para comunicação e escrita, visão estratégica e holística, inter-relacionamento, entre outros.
Durante o período da pandemia de Covid-19, como você enxergou o papel do contador para a sobrevivência e suporte aos pequenos negócios?
A pandemia da Covid-19, além dos temores e problemas que trouxe a toda a humanidade, nos ensinou diversas lições e mostrou-nos a importância da atuação direta de profissionais de diversos segmentos, como dos médicos e cientistas. Neste cenário, o contador ganhou grande destaque, pois o primeiro setor (Governo) e a sociedade como um todo perceberam o quão importante é este profissional para salvar empresas e promover o seu desenvolvimento.
Como você analisa o papel do contador e das entidades de classe em pautas importantes para a sociedade, como a realização da reforma tributária, a simplificação, a redução do Custo Brasil, entre tantas outras?
Como ponto de partida para uma reflexão sobre a questão da reforma tributária, desburocratização, simplificação e redução do custo Brasil podemos afirmar que essas pautas não caminharam ao longo das últimas décadas pela falta de uma massiva participação de profissionais da contabilidade. São estes que conhecem a realidade quotidiana dessas demandas. Logo, precisam ser os grandes protagonistas neste palco. Nos últimos anos, essa conscientização começou a ser difundida, e hoje, grande parte do segmento político já tem essa consciência. Por outro lado, é preciso despertar o contador para ocupar esse espaço e ser o ator principal para construir uma sociedade melhor para se viver e empreender.
Diante da complexidade tributária brasileira e a sofisticação do nosso Fisco, um dos mais evoluídos do mundo, quais os principais desafios para a classe contábil?
Diante de milhares de legislações truncadas e desencontradas, parece que resta somente um caminho, o da simplificação, para tornar a vida de empreendedores, contadores e do próprio fisco mais fácil e ágil. O desafio principal é o jogo de interesses, superar a herança histórica de dominação, que remonta à era do Brasil Colônia e que, em uma análise rápida ao longo da linha do tempo, foi mudando de roupa, porém sem mudar a essência, nem mudar sequer os contornos delimitadores.
Mudar é preciso, e somente a mudança transformadora é capaz de um cenário. Porém, a realidade somente se modifica quando uma cultura, ainda predominante, começar a mudar, e este processo ainda está dando os primeiros passos, quase como uma criança que insiste em ficar deitada em seu berço, mesmo quando já tem condições físicas de iniciar o processo de caminhada.
A classe contábil é detentora de uma oportunidade, quase que única, para impulsionar mudanças profundas, pois cabe a ela contabilizar ativos e passivos, materiais ou imateriais, financeiros ou humanos. Quando esta consciência permear a classe contábil, o motor da mudança estará abastecido e pronto para conduzir o Brasil à uma nova realidade.
Como você vê essa percepção e evolução sobre o papel de consultor estratégico do contador para as empresas brasileiras, especialmente para os pequenos negócios?
Para o mundo dos pequenos negócios o contador vem ocupando papel de destaque, onde este é o grande responsável pelo sucesso ou fracasso de milhares e milhares de empreendimentos no Brasil. O conhecimento, a visão estratégica e a experiência do contador, quando devidamente aproveitadas pelos empresários, são fatores cruciais para sucesso e vida longa das organizações.
Por outro lado, a discussão sobre o contador consultor é de longa data. O certo é que muitos não conseguem entender esse papel dentro do mercado. Por outro lado, visualizamos empresas e “gurus” afirmando terem as receitas para realizar a virada de chave do contador para consultor. Essa questão, precisa urgentemente ser demonstrada e levada à discussão, para que os contadores entendam que consultoria e estratégia são degraus dentro do exercício da profissão que exigem novas habilidades e qualificações aliadas a experiência.
Artigo excelente e uma ótima percepção do Laudelino nesse nosso momento atual.